O Papa
Francisco escolheu o Brasil para fazer sua primeira viagem internacional, data
em que presidiu a Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Devoto de Nossa Senhora
Aparecida, o pontífice fez questão de incluir no roteiro uma visita — dia 24 de
julho de 2013 — ao Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida,
na cidade de Aparecida do Norte, interior de São Paulo.
Essa foi a
terceira passagem de um pontífice ao Santuário — João Paulo II esteve lá em
1980 e Bento XVI, em 2007. Essa é a segunda vez que Francisco vem à Aparecida —
A primeira foi em 2007, quando ainda era Arcebispo de Buenos Aires e participou
da Conferência dos Bispos Latino-Americanos.
Cerca de 12
mil fieis e três mil membros do clero assistiram à missa celebrada pelo papa
dentro do da basílica do Santuário Nacional de Aparecida.
Os que
ficaram do lado de fora do santuário assistiram à celebração do lado de fora
por meio de telões, debaixo de uma garoa intermitente e uma sensação térmica de
menos de dez graus. Dir-se-ia que o mau tempo deixou o evento mais grandioso , já
que a ideia da peregrinação é abrir mão das mordomias.
Ritual
começou com religiosos contando as histórias de Nossa Senhora de Aparecida e da
construção do santuário - que já acolheu três papas. Durante celebração, o papa
citou a história dos pescadores que encontraram a imagem de Nossa Senhora
Aparecida como exemplo da forma como Deus pode surpreender.
"Deus
sempre surpreende, Deus sempre nos reserva o melhor (...) Confiemos em
Deus", disse Francisco.
O papa
pediu aos fiéis para adotarem três simples posturas do cristāo: simples:
conservar a esperança, deixar-se surpreender por Deus; e viver na alegria.
Com o final
da missa, o papa Francisco dirigiu-se à Tribuna Papa Bento XVI, para abençoar, em espanhol, os fiéis que nāo conseguiram entrar na
basílica: “Irmãos e irmãs, eu não falo
brasileiro. Me perdoem, vou falar em espanhol. Muito obrigado de coração por
estar aqui”, disse Francisco.
Leia abaixo a íntegra da homilia do papa, no Santuário Nacional de Aparecida, em 24 de julho de 2013:
“Eminentíssimo
Senhor Cardeal, Venerados irmãos no episcopado e no sacerdócio, Queridos irmãos
e irmãs!
Quanta alegria me dá vir à casa da Mãe de cada brasileiro, o
Santuário de Nossa Senhora Aparecida. No dia seguinte à minha eleição como
Bispo de Roma fui visitar a Basílica de Santa Maria Maior, para confiar a Nossa
Senhora o meu ministério.
Hoje, eu
quis vir aqui para suplicar à Maria, nossa Mãe, o bom êxito da Jornada Mundial
da Juventude e colocar aos seus pés a vida do povo latino-americano.
Queria dizer-lhes, primeiramente, uma coisa. Neste
Santuário, seis anos atrás, quando aqui se realizou a V Conferência Geral do
Episcopado da América Latina e do Caribe, pude dar-me conta pessoalmente de um
fato belíssimo: ver como os Bispos – que trabalharam sobre o tema do encontro
com Cristo, discipulado e missão – eram animados, acompanhados e, em certo
sentido, inspirados pelos milhares de peregrinos que vinham diariamente confiar
a sua vida a Nossa Senhora: aquela Conferência foi um grande momento de vida de
Igreja.
E, de fato,
pode-se dizer que o Documento de Aparecida nasceu justamente deste encontro
entre os trabalhos dos Pastores e a fé simples dos romeiros, sob a proteção
maternal de Maria.
A Igreja,
quando busca Cristo, bate sempre à casa da Mãe e pede: “Mostrai-nos Jesus”. É
de Maria que se aprende o verdadeiro discipulado. E, por isso, a Igreja sai em
missão sempre na esteira de Maria.
Assim, de
cara à Jornada Mundial da Juventude que me trouxe até o Brasil, também eu venho
hoje bater à porta da casa de Maria, que amou e educou Jesus, para que ajude a
todos nós, os Pastores do Povo de Deus, aos pais e aos educadores, a transmitir
aos nossos jovens os valores que farão deles construtores de um País e de um
mundo mais justo, solidário e fraterno.
Para tal,
gostaria de chamar à atenção para três simples posturas, três simples posturas:
Conservar a esperança; deixar-se surpreender por Deus; viver na alegria.
1.
Conservar a esperança.
A segunda
leitura da Missa apresenta uma cena dramática: uma mulher – figura de Maria e
da Igreja – sendo perseguida por um Dragão – o diabo – que quer lhe devorar o
filho. A cena, porém, não é de morte, mas de vida, porque Deus intervém
e coloca o filho a salvo (cfr. Ap 12,13a.15-16a).
Quantas
dificuldades na vida de cada um, no nosso povo, nas nossas comunidades, mas,
por maiores que possam parecer, Deus nunca deixa que sejamos submergidos.
Frente ao
desânimo que poderia aparecer na vida, em quem trabalha na evangelização ou em
quem se esforça por viver a fé como pai e mãe de família, quero dizer com
força:
Tenham
sempre no coração esta certeza! Deus caminha a seu lado, nunca lhes
deixa desamparados!
Nunca
percamos a esperança!
Nunca
deixemos que ela se apague nos nossos corações!
O “dragão”,
o mal, faz-se presente na nossa história, mas ele não é o mais forte. Deus
é o mais forte, e Deus é a nossa esperança! É verdade que hoje, mais ou menos
todas as pessoas, e também os nossos jovens, experimentam o fascínio de tantos
ídolos que se colocam no lugar de Deus e parecem dar esperança: o dinheiro, o
poder, o sucesso, o prazer.
Frequentemente,
uma sensação de solidão e de vazio entra no coração de muitos e conduz à busca
de compensações, destes ídolos passageiros.
Queridos
irmãos e irmãs, sejamos luzeiros de esperança! Tenhamos uma visão
positiva sobre a realidade.
Encorajemos
a generosidade que caracteriza os jovens, acompanhando-lhes no processo de se
tornarem protagonistas da construção de um mundo melhor: eles são um motor
potente para a Igreja e para a sociedade.
Eles não
precisam só de coisas, precisam sobretudo que lhes sejam propostos aqueles
valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a memória de um
povo.
Neste
Santuário, que faz parte da memória do Brasil, podemos quase que apalpá-los:
espiritualidade, generosidade, solidariedade, perseverança, fraternidade,
alegria; trata-se de valores que encontram a sua raiz mais profunda na fé
cristã.
2. A
segunda postura:Deixar-se surpreender por Deus.
Quem é
homem e mulher de esperança – a grande esperança que a fé nos dá – sabe que,
mesmo em meio às dificuldades, Deus atua e nos surpreende.
A história
deste Santuário serve de exemplo: três pescadores, depois de um dia sem
conseguir apanhar peixes, nas águas do Rio Parnaíba, encontram algo inesperado:
uma imagem de Nossa Senhora da Conceição.
Quem
poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera, tornar-se-ia o lugar
onde todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma Mãe? Deus
sempre surpreende, como o vinho novo, no Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos
reserva o melhor. Mas pede que nos deixemos surpreender pelo seu amor, que
acolhamos as suas surpresas.
Confiemos em Deus! Longe d’Ele, o vinho da alegria, o vinho
da esperança, se esgota. Se nos aproximamos d’Ele, se permanecemos com Ele,
aquilo que parece água fria, aquilo que é dificuldade, aquilo que é pecado, se
transforma em vinho novo de amizade com Ele.
3. A terceira postura:
Viver na alegria.
Queridos
amigos, se caminhamos na esperança, deixando-nos surpreender pelo vinho novo
que Jesus nos oferece, há alegria no nosso coração e não podemos deixar de ser
testemunhas dessa alegria.
O cristão é
alegre, nunca está triste. Deus nos acompanha. Temos uma Mãe que sempre
intercede pela vida dos seus filhos, por nós, como a rainha Ester na primeira
leitura (cf. Est 5, 3).
Jesus nos
mostrou que a face de Deus é a de um Pai que nos ama. O pecado e a morte
foram derrotados. O cristão não pode ser pessimista! Não pode ter uma cara de
quem parece num constante estado de luto.
Se
estivermos verdadeiramente enamorados de Cristo e sentirmos o quanto Ele nos
ama, o nosso coração se “incendiará” de tal alegria que contagiará quem estiver
ao nosso lado. Como dizia Bento XVI, aqui neste Santuário: «O discípulo
sabe que sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro”
(Discurso inaugural da Conferência de Aparecida [13 de maio de 2007]:
Insegnamenti III/1 [2007], 861).
Queridos
amigos, viemos bater à porta da casa de Maria. Ela abriu-nos, fez-nos
entrar e nos aponta o seu Filho. Agora Ela nos pede: «Fazei o que Ele vos
disser» (Jo 2,5). Sim, Mãe, nos comprometemos a fazer o que Jesus nos disser! E
o faremos com esperança, confiantes nas surpresas de Deus e cheios de alegria.
Assim seja.”
Fonte:
Boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé
O pontífice
prometeu voltar ao Brasil em 2017, já que em 2017 serão comemorados os 300 anos
da descoberta da imagem de Nossa Senhora Aparecida no Rio Paraíba.
Pediu para
que os fiéis rezem por ele, sempre! E,
como devoto, também pediu à "mãe de
todos os brasileiros" proteção à Jornada Mundial da Juventude (JMJ).